

Você está fazendo tudo direitinho. Comendo certo e se exercitando. Consciência tranquila. Até se permite sonhar vestindo aquela coleção há tantos verões socada lá no fundo do guarda-roupa.
Mas, passadas três semanas, ao subir na balança, o susto.
- Não emagreci quase nada! É isso mesmo?! Não é possível. Tanto sacrifício para quê? O que fiz de errado?
E vem a raiva. Raiva da balança, da dieta, da nutricionista, do médico, de você mesmo. Vem o choro, de pura frustração e desânimo.
- E agora? Será que pra mim não tem jeito? Nunca mais o manequim dos bons tempos?
Hora da virada
Apesar das melhores dietas e malhações, você, que já tentou ou está tentando emagrecer, provavelmente já sentiu na carne a impiedade da balança. É daqueles pesadelos que leva muita gente a chutar o pau da barraca.
Desistir? Infelizmente, é a sina dessa incompreensível frustração, que se repete todo dia para muitos. E você faz ideia de quantos passam por isso?
Tem mesmo muita gente nesse barco – sobrecarregado e avariado
– pois estima-se que quase um terço da população do mundo afluente e emergente está tentando desesperadamente perder peso nesse exato momento. A maioria sem êxito. E se falarmos em países como os Estados Unidos, esse número é bem maior, pois dois terços da população sofre ali com sobrepeso e obesidade. No Brasil, já é metade da polução.
E sabe por que esse recorde mundial de tentativas fracassadas? A resposta, por mais irritante que pareça, contém o segredo da virada: Porque as pessoas geralmente desistem no momento crítico, quando deveriam reabestecer o motor da força de vontade e seguir em frente. Mesmo, em alguns momentos, sem resultado aparente. Por estranho que soe, o momento mágico, que chama toda determinação do mundo, é exatamente o do aparente fracasso. Para quem é persistente, vale a pena enfatizar, pode ser exatamente a hora da virada.
Por favor, leia com muita atenção o que vou lhe dizer agora.
Se você está fazendo tudo certinho e ainda assim os resultados não convencem, duas coisas podem estar acontecendo:
- Algum “erro oculto”, que deve ser identificado com ajuda dos profissionais que o acompanham, e bem compreendido por você. Abusos eventuais que, somados, dão um saldo positivo de calorias? Exercícios físicos insuficientes? Algum problema metabólico? Converse com três profissionais: médico, nutricionista e personal trainer.
- “Traição” da balança.
A balança pode estar errada?
Mas como, “traição”? A balança não me põe a par da realidade?
Não estou falando de balanças desreguladas, mas de interpretação errada. Isso mesmo, a tentativa simplória de comparar um número com o outro em qualquer intervalo de tempo pode falsear resultados. Veja porquê:
A balança,desde que obviamente bem regulada, mostra fielmente seu peso corporal pontual, num dado momento, mas NÃO DISTINGUE outros três itens vitais, que fazem parte da equação do emagrecimento, permitindo por isso interpretações alucinantes:
- CICLO DOS LÍQUIDOS CORPORAIS
- COMPOSIÇÃO CORPORAL
- MEDIDAS CORPORAIS
Isso quer dizer que se você OLHAR SÓ PARA A BALANÇA, principalmente no CURTO PRAZO, poderá tirar CONCLUSÕES ERRADAS sobre o seu corpo, como achar que está emagrecendo enquanto está engordando, ou o contrário, achar que está engordando enquanto está emagrecendo.
Veja alguns exemplos:
- VARIAÇÃO DIÁRIA – De um dia para o outro, mesmo da manhã à noite, seu corpo pode acumular significativa quantidade de líquidos e alimentos, o que leva a variação normal de peso, que pode nalguns casos ultrapassar um quilo, para cima ou para baixo. E quando você se pesa, digamos, num horário em que estes acúmulos (liquidos e alimentos) estão em baixa e depois, no dia seguinte, quando estão em alta, ficará intrigado, para não dizer outra coisa mais realista, imaginando erradamente haver engordado. E pode ocorrer exatamente o contrário – alguém imagina que emagreceu, ao passo que, infelizmente, isso não aconteceu, ou aconteceu numa magnitude bem menor.
- VARIAÇÃO SEMANAL De uma semana para outra os líquidos também têm seu ciclo normal (em algumas situações pode ser patológico ou induzido por medicamentos). Ocorre mais frequentemente em mulheres que ainda menstruam, na fase pré menstrual, ou qualquer pessoa em qualquer idade que tenda a “inchar”. Flutuações hormonais são comuns, e podem forçar maior volume de água para o terceiro espaço (entre a célula e o vaso sanguineo), algo que não é tão fácil de perceber, mas balança não perdoa! A perda de um quilo em uma semana pode ser mascarada por 1,5 kg de acúmulos do momento da pesagem, levando a um saldo positivamente desanimador de meio kg a mais – resultado enganador!
- VARIAÇÃO MENSAL De um mês para o outro, embora essa margem de erro diminua, na hipótese de se estar fazendo tudo direitinho, ainda assim os mesmos fatores que acabamos de citar podem interferir na confiabilidade do resultado da balança, quando e compara apenas o ponto de partida com o de chegada. Ao fazer exercício físico, sua massa muscular aumentará enquanto o percentual de gordura encolherá. E isso é tudo que se pode desejar: diminuição das medidas, saúde e percepção de estar mais magro. No entanto, os números da balança podem ser desapontadores se, no momento da pesagem, todos aqueles fatores de confundimento estiverem juntos, e somados ainda ao fator que acabamos de citar, o aumento dos músculos, que pesam mais que a gordura!
Percebeu como a balança sozinha não diz tudo?
Como saber se estou emagrecendo de verdade?
Para avaliar os resultados, fica claro que só a balança não é suficente. Longe disso! Pelo menos três parametros avaliativos são necessários:
- Balança – Ela de novo. Necessária, sim. Suficiente, não. Pese dia sim, dia não, sempre na mesma balança, hora, roupa e condição (se estiver para menstruar, não pese). Anote, e no final do mês, com vários pontinhos de pesagem, veja a tendência, se para cima ou para baixo. Trace uma reta bem no meio da nuvem de pontos. Apenas comparar o primeiro com o último valor da pesagem, como muita gente faz, pode falsear a tendência.
- Avaliação da composição corporal – Mostra se você está perdendo gordura e ganhando músculo, que é o ideal. Se ocorrer o contrário – preço caro que cobram as “dietas malucas” – você facilmente vai recuperar cada quilinho, com a maldição extra de ganhar gordura e ver seu corpo cada vez mais desengonçado. Não embarque nessa! Por isso, procure um profissional de nutrição e educação física, e no começo, faça essa avaliação mensal, com bioimpedância ou plicometria. A bioimpedância é mais precisa, mas não pode ser feita por quem usa marcapasso, desfibrilador ou grandes próteses metálicas.
Quando há ganho de massa muscular, os números da balança às vezes acusam pouca variação, mas é quando a pessoa emagrece de verdade! O metabolismo basal fica mais rápido, facilitando perder peso na sequencia e, o que é mais desafiador, ajudando a manter o peso! De olho, então, na massa muscular. Abaixo a gordura e mais massa muscular esquelética.
- Antropometria – Afere e compara medidas de abdome, busto, cintura, quadril coxas, braços, etc. e faz as relações. Estudos revelam que a gordura da barriga é a mais vilã, aumentando consideravelmente o risco de doenças cardiometabólicas, inclusive diabetes. É preciso haver perda proporcionada de medidas.
Conclusão
Finalmente, com essas aferições, será possível dizer com certeza se você está no caminho certo ou no caminho errado do emagrecimento. E se ele de fato está acontecendo.
Consulte sempre seu médico e siga um plano alimentar com orientação e seguimento de nutriconista. Para os exercícios físicos, obtenha sinal verde de seu médico e orientação permanente de um educador físico.
Dr. Daniel S. F. Boarim
Médico, Nutricionista e Diretor Clínico da Lapinha Clínica e Spa
Autor de mais de 10 obras sobre Nutrição, Medicina Preventiva e Vida Saudável.