

Nos últimos cinco anos…
Testemunhamos um boom de pesquisas sobre as interações entre o microbioma intestinal, o cérebro e o comportamento. Há muitas evidências que convergem para essa via de mão dupla, do cérebro para a microbiota intestinal e da microbiota para o cérebro. Um conversa com o outro. As interferências recíprocas são mais fortes do que imaginávamos, tanto no sentido da saúde e bem-estar como no sentido do adoecimento.
A dor, as emoções, as interações sociais, a depressão, e até doenças mentais sofrem influência da ingestão de alimentos via microbiota intestinal. Por exemplo, na depressão, observam-se certos estados disbióticos, ou alterações na flora intestinal, que alguns descrevem como “impressão digital no intestino do quadro depressivo”.
Incrivelmente, o mesmo se aplica ao estresse crônico e ao autismo, nos quais se verificou um padrão de sinalizações cerebrais alteradas para o intestino, coexistindo com sinalizações também alteradas no sentido oposto, o que teria um papel no reforço das patologias cerebrais.
E o que provocariam essas alterações destrutivas no eixo cérebro-intestino? Os trabalhos científicos são contundentes. A resposta é “dietas ocidentais”! Essas dietas, carregadas de açúcar, gordura, produtos ultraprocessados, aditivos químicos, etc. podem sinalizar para o cérebro, via microbiota, alterando, com o tempo, o comportamento das pessoas, tornando-as mais irritadas, mais vulneráveis aos estressores do dia a dia e até mais deprimidas!
Mas é preciso dizer que:
Embora os estudos realizados em pacientes com depressão e modelos de roedores sejam promissores e esclarecedores, sugerindo relação de causalidade, faltam ainda evidências de que se possam conseguir resultados rápidos ou interferir em condições comportamentais agudas.
No entanto os estudos avançam. Por exemplo, a transferência microbiana em crianças com autismo aponta à microbiota intestinal como alvo terapêutico promissor. Mas ainda há muito caminho a percorrer nessa linha de pesquisa.
Por agora o recado final é:
Adote uma dieta saudável, evite o açúcar, os alimentos gordurosos e as frituras. Evite junk food. Consuma liberalmente frutas e hortaliças. Cereais, só integrais. Prefira alimentos orgânicos. O mais intrigante aqui é que esse é o lugar comum que todos conhecem, que todos admitem, mas ao qual poucos chegam.
Dr. Daniel Boarim